Entre rufos, farthingales e metros e metros de tecido...
Nos ultimos 3 meses eu ajudei meu amigo Pedro Venanci a pesquisar e coordenar um trabalho de historia da moda baseado no Renascimento e no Neoclassicismo. E apesar de ter sido um trabalho de muita pesquisa e muitos ajustes, foi delicioso ajuda-lo não só com as pesquisas, mas também ilustrando as roupas escolhidas para serem confeccionadas! :D
Mas vamos aos fatos... e fotos ;)
Para o Renascimento, foram selecionado 8 casais representando as varias etapas do periodo, e os trajes desses casais foram adaptados, confeccionados e representados pelo Pedro e seus colegas de classe, que encenaram uma dança renascentista tirada de "Shakespeare Apaixonado", o que me deixou morrendo de vontade de rever o filme pela milhonésima vez...
Acima, Beatrice d'Este (à esquerda) ao lado de dois retratos que
supostamente são de Lucrezia Borgia (embora Lucrezia fosse na
verdade lourissima de olhos azuis com um rosto angelical)
Para o Renascimento Italiano foi escolhido o lindo vestido de 1495, de Beatrice d'Este, que era inspirado num vestido usado por sua prima Lucrezia Borgia, que foi uma grande lançadora de moda de seu tempo. Beatrice era duquesa de Milão e membro de uma das familias nobres mais importantes da Italia na época (para quem não sabe, na Italia Renascentista não havia um reino, mas varias cidades independentes governadas por duques e condes, que era praticamente a mesma coisa que um rei, hahaha, e Beatrice foi uma dessas duquesas da época, ou seja, praticamente uma rainha).
Fanart de Beatrice d'Este.
Para o projeto o vestido foi reproduzido fielmente
Nesse periodo (um dos meus favoritos ever), a influencia da Grecia Classica era imensa! E isso pode ser notado nos rebuscados penteados que imitavam os gregos. A cintura dos vestidos ainda era alta, como a do final da Idade Média, mas a silhueta "vertical" já estava sendo substituida pela "horizontal", então os hennins (aqueles chapeus pontudos que todos associam com fadas e bruxas de contos de fadas, sabe?) foram aposentados, e substituidos pelos penteados que eram entrelaçados com fitas, pérolass e pedras preciosas.
E a roupa ficou muito fashion quando entrou a tendencia do "mendigo chic style", aonde tiras de tecidos nobres, como sedas, veludos e adamascados, eram amarradas umas nas outras formando diversos modelos de mangas, corpetes e até mesmo saias... E pelos vários "buraquinhos" que ficavam nas roupas por causa das amarrações, era muito estiloso puxar partes da camisa ou camisola debaixo, pra fazer aqueles gominhos fofinhos que vemos nas mangas, cavas e calções masculinos. Isso tudo deixava a moda muito mais versatil, pois era só pegar o mesmo vestido da noite anterior, mudar um pedaço por o de um outro vestido, puxar a camisa aqui e ali, e voilá: você tinha um modelito totalmente diferente e super fashion para causar inveja nas outras mulheres da corte!
E a roupa ficou muito fashion quando entrou a tendencia do "mendigo chic style", aonde tiras de tecidos nobres, como sedas, veludos e adamascados, eram amarradas umas nas outras formando diversos modelos de mangas, corpetes e até mesmo saias... E pelos vários "buraquinhos" que ficavam nas roupas por causa das amarrações, era muito estiloso puxar partes da camisa ou camisola debaixo, pra fazer aqueles gominhos fofinhos que vemos nas mangas, cavas e calções masculinos. Isso tudo deixava a moda muito mais versatil, pois era só pegar o mesmo vestido da noite anterior, mudar um pedaço por o de um outro vestido, puxar a camisa aqui e ali, e voilá: você tinha um modelito totalmente diferente e super fashion para causar inveja nas outras mulheres da corte!
Sibylle von Kleve (à esquerda) ao lado de outros modelos
de vestido do Renascimento Alemão
A tendencia da "moda em pedaços" ainda durou um tempo e ficou muito alegre e colorida durante o Renascimento Alemão, que convenhamos, é puro luxo com essas saias "listradas" feitas de tecidos caros e contrastantes! E para representa-la, foi escolhido um vestido de 1526, da Sibylle von Kleves (irmã mais velha da Anna von Kleve, uma das infelizes esposas do Henrique VIII), que além de ser filha de duque, se casou com o principe eleitor da Saxonia (é que na época, a Saxonia também não tinha rei, e sim varias cidades estados tal qual a Italia, e era governada por principes eleitores, responsaveis pela eleição do governante do Sacro Imperio Romano), ou seja, MUITOOO fina!!!
Fanart de Sibylle of Kleve, e ao lado, modelo alterado para o projeto.
O vestido escolhido foi o que ela usou no seu casamento (e sim, ele era vermelho!), e tem essa manga de tiras formando varios gominhos, como se fossem varias manguinhas fofas, uma emendada na outra. Puro estilo!!!
Anne Boleyn (à esquerda) e ao lado
Natalie Portman como Anne Boleyn no filme "A Outra"
Para o Renascimento Francês, foi escolhida um vestido de 1528, da Anne Boleyn (isso mesmo, a rainha inglesa Anne Boleyn, por quem Henry VIII rompeu com a Igreja Catolica só pra poder se casar com ela), pois Anne além de ter sido educada na França, ainda foi dama de companhia da rainha Claude. E quando voltou para a Inglaterra trouxe com ela a moda francesa, os lindos toucados arredondados, os corpetes mais decotados e de cintura mais baixa que contrastavam com o
recatado
estilo espanhol da primeira esposa de Henry VIII, Catalina de Aragón.
Fanart de Anne Boleyn inspirada no filme "A Outra"
ao lado, modelo modificado para o projeto
Anne era extremamente fina, culta e sensual, apesar de não pertencer ao padrão de beleza da época, ela era o tipo de mulher de parar o transito, no caso dela, a Corte Inglesa, rsrs... E ela era tão "afrancesada" que era tratada como se fosse realmente francesa, por isso, ninguem melhor e mais icônica que 'Mademoiselle Boullan' para representar o renascimento francês, não é mesmo?
Jane Seymour (à esquerda) e Anabelle Walis como Jane em The Tudors
Jane Seymour e Kathryn Howard (a terceira e a quinta esposa de Henry VIII) da série "The Tudors" foram escolhidas para representar os dois extremos do estilo Tudor, que não deixa de ser Renascimento Inglês. Jane não era tão aristocratica, culta e fina como Anne Boleyn, mas Henry se encantou com seu jeito recatado como uma forma de repudiar toda petulancia de Anne. Então Jane representa essa volta ao recato, aos costumes engleses, e em seu mais famoso retrato, ela rema contra a mare e usa o capelo ingles ao invés do frances, que era o ultimo grito da moda da época.
Fanart de Jane Seymour de The Tudors
ao lado, vestido alterado para o projeto
Na minha opinião, Jane só se tornou a esposa favorita de Henry porque ela lhe deu um filho homem e morreu logo em seguida... Henry enjoava das esposas e quando se interessava por uma nova moça da corte, logo dava um jeito de se livrar da velha esposa para casar com a nova. Tanto é assim, que Henry se casou com Anna von Kleve (a irmã mais moça da Sibylle ali de cima) e em 6 meses ja pedia a anulação para casar com a espevitada Kathryn Howard, a esposa adolescente de Henry VIII.
Kathryn Howard (à esquerda) e ao lado Tamzin Merchant como a jovem rainha em The Tudors
Kathryn era prima da Anne Boleyn por parte de mãe, era de uma familia rica e importante, mas não tinha muita instrução, então a corte pra ela era pura festa! Kathryn amava ostentação, usava tudo que podia e mais um pouco pra montar seus visuais para suas aparições publicas.
Fanart de Kathryn Howard de The Tudors
ao lado, vestido alterado para o projeto
Então temos a recatada e tradicional Jane e a espevitada e espalhafatosa Kathyrn representando a moda Tudor, o primeiro vestido de 1537 e o segundo de 1540.
Eleonora di Garzia di Toledo, e Ana de Austria (à direita)
estilo italiano inspirado no estilo ibérico
Na decada de 1550 o estilo espanhol (ou ibérico) vem com tudo na moda dos países proximos por causa da influencia do Imperador Felipe II de Espanha que estava dominando geral, e com ele, os rufos viraram febre! A moda ibérica era caracterizada pelos tecidos e peças rigidas, cores sóbrias, de preferencia escuras, e dos rufos (aquela golinha de palhaço) muito brancos e engomados. Quanto maior, mais importante era a pessoa! Um dos melhores exemplos do estilo espanhol é o quadro de 1571 da rainha Ana de Austria, esposa do rei Felipe II de Espanha.
Fanart de Ana de Austria, representando a moda do Renascimento Espanhol
(esse modelo não fez parte do projeto)
O estilo foi tão influente que todas as cortes o aderiram de um jeito ou de outro, e para representar a influencia espanhola, foi escolido um vestido de 1571, da duquesa italiana Eleonora di Garzia di Toledo.
Fanart de Eleonora di Garzia di Toledo
ao lado, vestido alterado para o projeto
A mistura dos estilos é bem nitida, se você notar a rigidez do modelo, os detalhes bordados em ouro e do rufo aberto, essa pequena gola que vai se abrindo em forma de rufo. Esse rufo evoluiria e acabaria virando o rufo aberto, aquela gola que ficou famosa por lembrar a da Branca de Neve, e que estourou com tudo na corte elizabetana.
Modelo elizabetano (à esquerda)
ao lado de Elizabeth I e suas fabulosas armações borboleta
E falando em elizabetano, é CA-LA-RO que Elizabeth I não poderia ficar de fora, né? Elizabeth, a filha de Henry VIII e Anne Boleyn, era uma grande fashionista! Ela amava moda, e lançou várias durante o seu "pequeno" reinado de mais de 40 anos, e a gola da Branca de Neve é sua marca registrada!
A moda elizabetana é marcada por mangas bufantes enormes, corpetes muito rigidos e pontudos na base, saias muito rodadas, armadas com farthingale (ou verdugado - o avô da crinolina), muitas jóias e perolas bordadas, e pelos rufos, tanto fechado quanto abertos, além dos véus que eram pendurados em armações de arame emoldurando os ombros e a cabeça em forma de borboleta. Elizabeth amava a armação em forma de borboleta!!! Ela "invencionava" tanto nos modelitos que chegou a lançar a moda do farthingale cartwell na corte inglesa, ou seja cilindrico, que parecia um bambolê debaixo da saia das mulheres da decada de 1590.
Fanart de vestido elizabetano representando Elizabeth I
Para representar o estilo da rainha Elizabeth, foi escolhido um vestido que apresenta tanto o rufo aberto, quanto a armação borborleta da decada de 1580.
Modelo do Renascimento Tardio (à esquerda)
ao lado, Marguerite de Valois
Fechando o Renascimento, temos esse estilo que podemos chamar de pré-barroco, com o rufo aberto ja se preparando para aposentar os babadinhos, entrando as pontas em forma de petalas que seria tão popular na moda francesa do seculo seguinte. E para isso, nada melhor que Marguerite de Valois, que ficou conhecida mesmo como "La Reine Margot". Margot ficou famosa não só pelos escandalos em que ela e sua familia se envolveram, mas também pela sua beleza e senso de estilo. Ela foi uma das mulheres mais fashionistas de seu tempo, e influenciou a moda das grandes cortes europeias com seus modelitos.
Fanart de vestido do Renascimento Tardio
representando Marguerite de Valois
O vestido escolhido para representar Margot é do fim da decada de 1590, quando Margot e seu marido Henri de Navarre, se separaram, e ela foi substituida no trono por sua prima italiana Maria di Medici.
Vale ressaltar que todas as rainhas, princesas, duquesas e demais moçoilas escolhidas pra esse projeto foram acompanhadas por distintos cavalheiros, que também foram caracterizados pelos colegas de classe do Pedro. Sendo assim, Beatrice d'Este foi acompanhada do marido Ludovico Sforza, Duque de Milão. Sybille von Kleve, de Johann Friedrich I, principe eleitor da Saxonia. Anne Boleyn de Henry VIII (um dos casais mais famosos da historia!). Jane Seymour, de seu irmão Edward Seymour, Duque de Somerset (que foi o tutor do futuro rei criança, Edward, seu sobrinho, filho de Jane e Henry). Kathryn Howard, de seu amante Thomas Culpepper. Eleonora di Garzia di Toledo, de seu marido Don Pietro di Medici. Marguerite de Valois, de seu marido Henri de Navarre. Enquanto Elizabeth I era cortejada pelo principe francês François de France, Duque D'Anjou, que foi o traje escolhido pelo meu amigo Pedro, e que ficou puro luxo!
Traje usado como inspiração, e Pedro como Duque d'Anjou
O projeto do meu amigo Pedro foi um verdadeiro passeio por mais de um seculo de moda de um dos periodos mais fantasticos da historia!
Para conferir a galeria de fotos da apresentação do projeto, click aqui!
Para conferir a galeria de fotos da apresentação do projeto, click aqui!
A outra parte do projeto foi sobre o Neoclassicismo, que é um revival do Renascimento e da Grecia Classica, e é tão interessante quanto. Não percam o proximo post ;)
P.S. Mantive os nomes como eram escritos em seus respectivos países, pois acho que já que não se traduz nome proprio comum, isso também vale pros nomes dos reis, rainhas e demais nobres que de alguma maneira marcaram a historia, então Sibila de Cleves ficou Sibylle von Kleve; Ana de Cleve, Anna von Kleve; Henrique VIII, Henry VIII; Ana Bolena, Anne Boleyn; Catarina de Aragão, Catalina de Aragón; Claudia da França, Claude de France; Joana Seymour, Jane Seymour; Catarina Howard, Kathryn Howard, João Frederico I da Saxonia, Johann Friedrich I e por aí vai. Qualquer duvida é só deixar um comentario que eu esclareço com o maior prazer :D
;)
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